Quantidade importada em óleo de oliva pelo Brasil aumentou de janeiro a novembro. Consumidor está mais exigente e alguns supermercados oferecem produtos do mundo árabe.
São Paulo – O mercado brasileiro de azeites está em crescimento e o varejo que comercializa o produto já exibe algumas marcas árabes. O segmento no Brasil é formado quase que em sua totalidade por produtos estrangeiros e a quantidade importada cresceu 12,5% de janeiro a novembro deste ano sobre o mesmo período de 2018, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). As importações brasileiras de azeites somaram 82,4 mil toneladas.
Dados do Conselho Oleica Internacional (COI) também mostram o mercado brasileiro mais comprador. O conselho se baseia no período da safra mundial de azeitona para fazer a somatória de números. De outubro de 2018 a julho deste ano, a importação de azeite de oliva ou de bagaço de oliva no Brasil cresceu 13% sobre os mesmos meses da colheita anterior, segundo o COI. O País fez compras mensais de 5,3 mil toneladas a 8,8 mil toneladas, com aumento em oito dos nove meses analisados – sobre os mesmos meses do ano anterior.
“É uma categoria que é crescente. Aumentou a penetração em alguns lares, as pessoas consumiram mais, e tem muito mais para ser consumido nesse Brasil”, disse em entrevista à ANBA a presidente da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliva (Oliva), Rita Bassi. Ela acredita que o trabalho de combate às fraudes – de azeites adulterados – e a chegada de mais informação ao consumidor sobre os benefícios do produto à saúde favoreceram o mercado.
Bassi entende que a fiscalização acabou deixando o mercado com presença maior de azeites de qualidade. Segundo a presidente da Oliva, já no ano passado houve uma grande fiscalização e elas foram mantidas em 2019. “Tinha o impacto muito negativo tanto para o consumidor que comprava um produto achando que era azeite e não era, como para as empresas que são sérias, pela concorrência desleal”, afirma Rita. A Oliva auxiliou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) nesse processo.
A Casa Santa Luzia, supermercado de luxo na capital paulista, registrou aumento na procura por azeites. De acordo com o comprador do empório, Juliano Henrique Soares, as vendas do produto subiram 9% de janeiro a novembro deste ano, sendo que o maior aumento, de 39%, se deu nos azeites com sabores, seguidos pelo extravirgem, com 8%. A comercialização dos azeites comuns, para cozinhar e frituras, caiu 8%.
O supervisor de loja e especialista em azeites da Casa Santa Luzia, Rogério Gomes da Costa, percebe que o consumidor de renda menor está começando a comprar azeites e que os clientes que já compravam estão ainda mais informados, buscando mais qualidade. “Você vê que o nosso azeite mais usado para cozinhar, que não é o extravirgem, está tendo queda nas vendas porque até para cozinhar o pessoal tem usado o extravirgem”, relata.
Costa afirma que há controvérsia na afirmação de que o azeite extravirgem vira gordura saturada se usado na fritura. “É um pouco de mito. O extravirgem aguenta o mesmo calor que o refinado, sendo que usando o extravirgem você vai ter o sabor do azeite no alimento”, afirma. Segundo ele, os azeites mais elaborados vendem bem atualmente, mas há um maior crescimento entre os intermediários.
A Casa Santa Luzia comercializa 222 rótulos de azeites, dos quais 94 são italianos, 54 portugueses, 28 espanhóis, 21 brasileiros, 11 chilenos, sete gregos, três uruguaios, dois marroquinos, um argentino e um libanês. Soares afirma que as vendas de azeites portugueses e italianos cresceram bastante e as de espanhóis caiu. Os consumidores também costumam perguntar na loja por marcas novas e rótulos premiados.
As marcas árabes que a Casa Santa Luzia vende são as marroquinas Olis e Volubilis e a libanesa Kasslik. Essa última está nas prateleiras há mais de cinco anos e é comprada em grande volume por um mesmo cliente. As marroquinas foram introduzidas neste ano. Costa afirma que não há disponíveis no mercado brasileiro muitas marcas árabes de qualidade. Ele conta que foi a uma degustação de azeites árabes na capital paulista, na qual conheceu produtos muito bons, mas não os encontra no Brasil. A Casa Santa Luiza compra os azeites árabes de um importador/distribuidor.
Costa sente necessidade de um trabalho das marcas árabes no mercado brasileiro. “Como não tem um trabalho maior de degustação ou algo similar, acabam ficando meio esquecidas na gôndola”, afirma. O consumidor da Casa Santa Luzia compra essas marcas diferentes, como as árabes, mais por curiosidade, segundo ele. “A compra certa é daquelas principais”, afirma, sobre as marcas e origens mais famosas em azeites no Brasil.
O volume de importação de azeites de países árabes no Brasil é pequeno diante do universo total, mas vem crescendo. De janeiro a novembro deste ano, os árabes forneceram 1,33 mil toneladas de azeites para o mercado brasileiro, com avanço de 45% sobre o mesmo período de 2018, segundo dados da Secex. A Tunísia foi a principal origem, com 1,3 mil toneladas, quase a totalidade, mas o Marrocos vendeu 21 toneladas e o Líbano, dez toneladas. Tunísia e Marrocos aumentaram os envios e o Líbano diminuiu.
Portugal é de longe o maior fornecedor de azeite de oliva do Brasil, seguido por Espanha, Chile, Argentina e Itália. A Tunísia é a sexta da lista. Rita Bassi afirma que nos pontos de venda ainda é difícil encontrar azeites da Tunísia, mas acredita que passo a passo o país vem se esforçando na produção, em fazer de azeites de qualidade e entrando no Brasil. “O mercado brasileiro tem muitas oportunidades para produtos de qualidade, é uma extensão territorial grande, com uma população enorme. Quando o produto é de qualidade, tem espaço”, diz Bassi.
O secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, confia nas boas perspectivas para os azeites árabes no mercado brasileiro. Ele lembra que há alguns anos a quantidade exportada era bem menor. Além da Tunísia, ele cita Síria, Líbano, Egito e Marrocos como potenciais fornecedores para o mercado nacional no segmento. “A Câmara Árabe quer ajudar as empresas árabes em termos de marketing e divulgação de produtos”, disse ele.
A entidade promove a presença de empresas árabes de alimentos na feira Apas Show e na Anufood, e no próximo ano terá novamente estandes nas mostras, nos quais as marcas da região podem expor. As duas feiras ocorrem em São Paulo em maio e março, respectivamente. “É uma oportunidade para as empresas de azeites virem, exporem, se colocarem no mercado”, diz Mansour. A Câmara Árabe também estuda fazer uma ação especificamente para azeites árabes. Já foram realizados eventos de degustação do produto no Brasil.
Apesar no aumento do volume importado em azeites de oliva pelo Brasil de janeiro a novembro deste ano, houve queda de 9% na receita gerada com essas compras, o que sinaliza que o mercado importou produtos de menor valor individual, já que houve valorização do dólar no período. As importações de azeites somaram US$ 369,5 milhões nos onze primeiros meses de 2019 contra US$ 404,5 milhões em iguais meses de 2018, segundo dados da Secex.
Fonte: anba.com.br